Taitson
Um espaço para Filosofices
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Rumo ao Esclarecimento ou
O Papel Destruidor do Professor de Filosofia
Taitson Leal dos Santos
“A ave sai do ovo. O ovo é o mundo.
Quem quiser nascer tem que destruir um mundo.”
Hermann Hesse
O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) inicia seu discurso sobre o Esclarecimento afirmando: “Esclarecimento (...) é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado”. Esta menoridade não vem a ser falta de entendimento ou ignorância de. É a falta de vontade ou de coragem que o homem tem para fazer uso do entendimento utilizando seus próprios meios de que dispõe: a razão.
Essa falta de coragem, essa preguiça, cai na passividade, fazendo com que o homem se pergunte por que procurar respostas se os livros, os pastores, os cientistas, lhe dão de “mão beijada”.
“É difícil para um homem em particular desvencilhar-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza”. Quase, diz Kant, isso talvez signifique que os grilhões da menoridade sejam mais frágeis do que imaginamos. Mas novamente caímos na coragem: na coragem que o homem tem de ter para se libertar de seus grilhões e sair da caverna.
Os mitos ofereciam soluções às questões acerca da natureza e os homens não tinham a intenção de questionar tais respostas, pois questionando seriam impelidos a apresentar outra explicação tão ou mais convincente que a anterior. Novamente a questão da coragem. Como exemplo de tal atitude podemos citar os filósofos pré-socráticos, que saíram desta menoridade, indicada pelos modernos, e portanto, do jugo dos dogmas: “a superioridade do homem reside no saber”, afirmam Adorno e Horkheimer. E foi o que aqueles filósofos fizeram.
Adorno e Horkheimer asseguram que o Iluminismo (ou Esclarecimento), à medida que avança, acaba se envolvendo com a mitologia. Essa vontade de “livrar o mundo do feitiço” acaba com a “eterna mediação universal”.
Essa dominação obteve vários rótulos no curso da História: os Mitos na Antiguidade, a Razão (ou Iluminismo) na Modernidade e, hoje, talvez pudéssemos apontar a Ciência – ainda sob a supremacia da Razão. Pois, assim como os mitos, a Ciência propaga suas respostas, não admitindo que a contradigam. Ou melhor, para contradi-la deve-se ter em mãos provas tão contundentes quanto as dela. Decerto, não nos parece estranha a ideia de sentirmo-nos impotentes, uma vez que contra a Ciência nada podemos, pois estamos, cada dia mais, sob seu jugo e sobre suas verdades.
* * *
A Educação (institucionalizada) tem por fim elevar o Homem à sua maioridade, tomando-o pela mão e dirigindo-o ao SABER, livrando-o dos mitos e das superstições.
Não posso concordar com este fim defendido pela Educação. Não posso e não tenho intenção de tornar-me seu infante e erguer seu bastião. Creio que, ao tomar o outro pela mão e conduzi-lo ao SABER, termino por leva-lo a outras paragens mitológicas: liberto-o de um mito para fazê-lo crer em outro [Parafraseando Alfredo Bosi: A educação pura acompanha o curso da
dominação.]. A Educação Filosófica deve combater tal princípio: o de que a Educação LIBERTA. O ensino filosófico deve-se ater tão somente na destruição das amarras que agrilhoam o homem ao fundo da Caverna: eis sua finalidade. Penso que para o homem chegar a um Esclarecimento e se libertar da Menoridade deve “andar por si mesmo”, utilizando seu próprio saber, pois “o saber que é poder não conhece limites”. Assim entendido, a função do Professor de Filosofia reside na “destruição” dos conceitos que o aluno vem a ter. O Professor de Filosofia não leva o aluno a lugar algum; pelo contrário, tira-lhe as bases, o chão. É o outro (o aluno) quem deve criar seus conceitos, seus valores: deve caminhar só; e é o Professor quem deve permitir esta solidão; ele deve minar tudo o que o aluno tem como certo: deve abalar o que crê ser inabalável.
domingo, 7 de março de 2010
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